Odete Ferreira, 23-02-2014
Blog de carácter pessoal, com predominância de textos em prosa e poesia. Ocasionalmente, de reflexão...
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Conheço-te mas nunca saberei nada de ti
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
No hoje quero os sonhos futuros
Linhas
paralelas
no
piso da estrada
risco
contínuo
ou
descontínuo
caminho
dividido
apartheid
político
cabala
encapuçada
disfarçada
de destino.
Crês?
Desconfia!
Afasta-te
do rebanho
porfia
a tua rebeldia
à
natureza confiável
rosto
digno, imutável,
jardim
no simbólico Éden
acolhido
serás no verbo primitivo.
Desnudo
do vício corrupto
renascerás,
ser humano!
E
todos os sonhos serão puros.
Comungarás da harmonia
Ar,
Terra, Água…
No
presente,
regressa
ao passado.
Embebeda-te
do
vermelho sumo,
dança
hinos
de alegria,
tece
mantos
de flores,
banha-te
em
águas cristalinas
e,
por favor, faz hoje os sonhos futuros!
Tenho
pressa. O tempo é vilão à solta…
E
é em ti, amor, que confio
a
minha alma desgovernada
na
tua essência aprisionada.
Aí
estarei segura…
OF
- 02-02-14
Imagem – O paraíso terrestre por Hieronymus Bosh
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Hoje estou magoada
Hoje
estou magoada.
Ponto
final.
Sem
vírgulas,
sem
reticências,
sem
ponto e vírgula
e
demais família alargada.
Com
a chuva que me ensopa.
Com
as vidas, vida de pessoas.
Comigo!
Sim,
comigo!
Porque
na utopia
e
no sonho
me
(re)vivo.
E
faço-me mal
com
um fingido punhal
que
por ali ficou esquecido
nos
escombros do cenário.
Porque
me refugio
na
metáfora do ideário.
Porque
nasci aquário,
bolsa
de água,
como
barriga de mãe.
Solta,
corre na aventura
como
heróis e heroínas
de
histórias da carochinha.
Hoje
estou magoada.
Ah!
Se estou!
Mão
escrevente
emocionada,
lágrima
que verte água.
Chuva
ácida,
amargor
sem dor.
Interior
sonhador
(apesar
de tudo).
Raios
partam estes dias!
Aguardo
uma boa nova
emergindo
de águas enevoadas.
Alvorotada,
como
quando chegava o carteiro…
OF
- 09-02-14
Foto – Autor desconhecido
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Crónica de um insólito anoitecer na Invicta
O sotaque português falado no Brasil obrigou as minhas orelhas a rodar a cabeça, a
observar uma família que se passeava com o vagar ocioso do tempo de férias. Um
dos elementos questionou algo a um transeunte e quase de imediato foi
interpelar um taxista.
A
patriarca da família, senhora bem arranjada numa simplicidade que casava bem
com o seu ar tranquilo, deve ter adivinhado que a minha curiosidade precisava
de alimento. “Você sabe como fazer para ir para a baixa?”. “Bem, na baixa
praticamente já estamos…”. E desatei, num fôlego, os nós que poderiam criar
obstáculos. Simplifiquei. A conversa brotou naturalmente entre todos nós: eu e
a família (marido, filho, esposa e neta).
Donde
eram, o porquê da escolha do Porto… A moça, uma jovem de uns 15/16 anos, viera
conhecer o país onde nascera. À data, o pai jogava num clube portuense. Quando
disse que tinha família no Brasil, os sorrisos uniram-se na cumplicidade da
língua comum…
“Ah,
espera aí, acho que tenho comigo 50 reais. Cá não valem nada”, disse num
impulso. Abri a carteira e, como se de uma cartola se tratasse, de lá saiu a
nota. O sorriso abriu-se num olhar surpreendido, verbalizando “É mesmo para
mim?”. “Claro, a mim de nada serve. No Brasil ainda dá para alguma coisa de
jeito?”. “Se dá! E muito, um sapato uma camisola…”, ripostou o avô, um senhor
de voz doce e postura gentil.
Por
largos minutos, ali ficamos trazendo na conversa um pouco de cada um de nós.
Inusitado, este encontro tornou o anoitecer na invicta um dia especial.
Afinal o
que receia o ser humano na abordagem a um semelhante? O medo que começa a fazer
parte de uma estratégia global de insegurança pessoal! E assim se vai corroendo
o que é basilar: comunicar, aproximar, estreitar a distância entre seres
humanos.
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