segunda-feira, 25 de maio de 2015

Talvez


Obra de Leonid Afremov

Sentou-se. Maquinalmente. Como a sua vida nos últimos tempos. Desligada da mente. Um corpo que repetia gestos memorizados ao longo dos anos. Só isso é que explicava a razão de ainda não se ter apercebido de olhares estranhos. Talvez a estranheza fosse uma palavra que apenas ela discernia. Em si. Não nos outros. Talvez o real pertencesse ao domínio dos matemáticos que sempre engendravam fórmulas para demonstrar os impossíveis. Ela só sabia de perceções. Um pouco de grandezas. De cores. De cheiros. Ah, de amor, sim – acreditava – mas talvez fosse apenas mais uma perceção. E eram assim os seus dias. E algumas noites. Cheias de muitas coisas e de poucas coisas. Nada de substancial. Mas sempre com um Talvez a azucrinar a mente. Poderoso, este advérbio. Sorrateiro, apoderava-se do leme e conduzia o barco a seu bel-prazer.
E a vida não tinha vida.
Talvez… Ou teria?

Odete Ferreira 24-05-15

19 comentários:

  1. E sem vontade própria deixava-se ir ao sabor do vento ou Talvez não.
    Um belo texto.
    Um braço e uma boa semana.

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  2. Odete,
    Um talvez pleno de vida.

    Um beijinho :)

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  3. Um belo texto, susceptível de várias interpretações. O "talvez" é responsável por isso. ;-)
    Talvez se trate de uma mulher totalmente alheada da realidade, e que apenas se alimente de percepções; dessas sensações de cheiro e de cor, sem grande novidade e luminosidade. Ou talvez seja dona de uma realidade bela que só ela entenda, de cheiros fantásticos e cores vibrantes que mais ninguém consegue percepcionar, e por isso causadora de estranheza aos olhos dos outros.
    Nem sempre "não ter vida" é sinónimo de não ter vida.
    Boa semana, Odete.
    xx

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  4. Boa noite, Odete.
    A percepção da sensibilidade, do jogar-se sem o medo da exatidão, traz prazer e faz com que a vida, que talvez possa ser ilusória ganhe sentido.
    Concordo que esse advérbio é poderoso demais, mas somos nós que devemos encarar esses fatos da vida.
    Amei.
    Beijos na alma.
    Linda semana de paz.

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  5. A dúvida é uma constante da vida.

    Acaso há certezas?

    Beijinhos

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  6. Oi, Odete!
    Até o último suspiro ainda há vida! (rs*)
    Alguém um dia disse que se não podemos viver as certezas, viva as dúvidas, pois até na indecisão pensamos a vida.
    Boa semana!
    Beijus,

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  7. Cada Vida é um Barco que é orientado pelo timoneiro ou tripulante.
    Afinal, essa mesma Vida também nos interroga acerca dos seus rumos...
    Amei.


    Beijos


    SOL

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  8. Bela tela escolheu!
    Desligada da mente, mas atenta ao que os sentidos lhe proporcionavam. Percebia o que, de fato, significa vida. Esse talvez, creio eu, é indicativo de caminhos, mas os guiados, tão somente, pelo sentir, dispensando a racionalidade. Para muitas jornadas se pode ir através de seu texto, na incorporação do que é visão e vida para essa mulher. Belo, como sempre! Bjs.

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  9. Olá Odete; belo texto...Espectacular....
    Cumprimentos

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  10. Minha Amiga.
    A vida é cheia de incertezas mas temos que imaginar somente coisas boas
    para vivermos mais feliz.
    Amiga..Eu estou um pouco ausente por estar prestes a fazer uma cirurgia
    tenho passado mal nos ultimos tempos.
    Estou sentido falta de si no meu blog por favor ñ me esqueça .
    Um abençoado final de semana.
    Beijos..Evanir.

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  11. E até maquinalmente o amor era imbatível!
    Ou não? Talvez!
    A percepção da dúvida contestando a realidade em dias e noites.
    Nada substancial. Gostei muito disso tudo, Odete!
    Beijo!

    VitorNani & Hang Gliding Paradise

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  12. Boa noite, Odete. Voltando psra te desejar um excelente domingo de paz.
    Já havia comentado nesta obra linda.
    Parabéns.
    Beijos na alma.

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  13. Talvez cada instante seja uma transformação interior...
    Beijo.

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  14. É sempre muito intrigante a vida sem vida.
    Cadinho RoCo

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  15. Sempre um enigma a vivência do que vivemos, ou a falta dela.
    bj

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  16. OI ODETE!
    UMA PERGUNTA INTRIGANTE E INSTIGANTE.
    ATÉ QUAL MOMENTO DA VIDA, A VIDA PODE SER CHAMADA ASSIM?
    ADOREI TEU TEXTO, ME LEVOU A REFLETIR SOBRE TUA COLOCAÇÃO.
    ABRÇS

    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  17. Que belo texto, nos conduzindo a uma deliciosa viagem

    por dentro numa análise dos questionamentos existenciais...

    O talvez é um bom começo, o caminho das perguntas

    possibilitam as respostas e a vida sempre se renova...

    Adorei, amiga!!

    Bjos.

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